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10 de setembro de 2012

Motel: o lado menos glamuroso



Lavagem à trois

Zero Hora testemunhou o que acontece em uma madrugada de sábado no motel, exceto a parte boa. Ao lado de três funcionárias, vimos o lado menos glamouroso da luxúria.

A estrutura lembra uma pousada de praia com algo de errado. Em vez de acesso à varanda, estão enfileiradas portas cerradas. Uma janela de vidro fosco serve apenas para conferir se a luz do quarto está ligada. Pouco depois da meia-noite, só quem circula pelos corredores é um trio apressado de faxineiras.

- Parece que eles combinam de sair tudo no mesmo horário - diz a líder delas, Juliana Cristina Cordova de Oliveira, sem poder dar atenção à reportagem.

A passagem de agosto para setembro tem um bom movimento atípico. Além do clima agradável, calharam dois fins de semana consecutivos com clientes endinheirados. Naquele sábado, dia 1º, o funcionalismo público já recebera salário. No próximo, seria a vez da iniciativa privada. Por isso as faxineiras correm feito formigas fugindo da água quente.

O objetivo de Juliana, de Fátima Maria Peixoto e de Andréia Ferreira é tocar um trabalho que preza pela rapidez, cuidado e praticidade. O primeiro passo é ficar de olho em uma tela de computador onde os quartos ocupados estão marcados em vermelho. São mais da metade dos 26 quartos naquele momento. Assim que liberados, eles precisam ser conferidos antes de o cliente deixar a recepção. Três quartos piscam na tela pedindo vistoria.

Enquanto Andréia escora a cadeira no blindex e se atraca de pano nas paredes do box, Fátima troca os lençóis, e Juliana confere o consumo. Conhece os truques mais manjados:

- Tu acreditas que eles bebem a água da garrafinha, enchem com água da torneira e colocam de volta no frigobar? Aí cobram a água na recepção e eles têm a cara de pau de dizer que não beberam. É muita chinelagem.

Há outros. Violar a parte de trás da embalagem para tirar o preservativo sem parecer que foi aberto, por exemplo. Às vezes, algo passa despercebido.

- Olha esse amendoim aqui (com um furinho embaixo). Não vi na hora. Vai ficar no prejuízo.

Outro cuidado é com as frágeis TVs de LCD. Juliana liga uma delas e balança a cabeça:

- Esses modelos fininhos não combinam com motel. O pessoal bate a cabeça e alguma coisa vaza lá dentro. Agora, toda vez, tem que conferir a imagem.

Uma suíte é limpa, e bem limpa, em aproximadamente sete minutos. Encerrada a minimaratona pelos três quartos, as funcionárias relaxam em um cômodo. Enquanto jantam em quentinhas, contam já ter trabalhado em diversos motéis. Gostam daquele. É um dos mais dinâmicos. Como os serviços mais complicados - cozinha e lavanderia - são terceirizados, o restante das tarefas é feito por todas.

A madrugada segue na rotina de limpar quartos, repor lençóis e produtos. Àquela hora, é raro quem peça comida. Se pedirem, elas mesmas têm de higienizar as mãos, vestir um novo par de luvas e descongelar os pratos feitos e congelados, nunca com gordura.

Conforme o horário avança, facilitam o trabalho do turno seguinte deixando pré-preparadas as bandejas de café da manhã, vendidas a R$ 16. Agora é torcer para que não liberem a suíte 23, de cerca de 300 metros quadrados. Alugada desde as 23h da noite anterior, é onde rolam festas para mais de 20 pessoas e os maiores estragos para a faxina. Mas, provavelmente, a farra terminará quando elas já estiverem descansando em casa.

Olhando a varanda sossegada mesmo enquanto o computador aponta intensa atividade nos quartos, pergunto se elas nunca ouvem nada. Se prestarem atenção ao lado das portas, ouvem. Mas obviamente não fazem questão. Ouvem sem querer, de vez em quando?

- Ah, só quando se empolgam muito. Como é que aquela mulher estava gritando ali antes, Andréia?

- Eu te amo, seu fdp! Eu te amo!

As três soltam uma gargalhada e param em seguida, envergonhadas. Elas são invisíveis e inaudíveis, mas às vezes esquecem desses detalhes.

Fonte: Zero Hora

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